quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A HIPÓTESE DOS MARCADORES-SOMÁTICOS




Preleção (há quem diga, porém não confirmado) , final da copa do Brasil 2009. Excelente edição feita pelo SC Corinthians / Nike. De fato, motivante, nada como chegar ao final de um caminho, e lembrar de todas as dificuldades superadas no percurso. Esses sucessos, no caso do vídeo (que gera uma retrospectiva), acabam por ficar gravados no cérebro, gerando uma constante auto-confiança, um reforço cumulativo, que acaba por gerar um espírito emocional muito forte. Embora a teoria dos marcadores-somáticos levem em consideração as escolhas anteriores negativas, como fator de eliminação de opções em determinada situação decisional, acredito que os fatores positivos gerem uma reação parecida, principalmente como uma pré-ativação, no caso do modelo de jogo por exemplo. Você tem um modelo, atingiu o sucesso assim, foi gerada uma sensação positiva, então, você quer novamente essa sensação positiva, portanto realiza este modelo de jogo novamente.



"Reforçando este pressuposto, António Damásio (1994, 2003) demonstra que o resultado da experiência condiciona as antecipações e decisões futuras através do que designa de “marcadores- somáticos”. De acordo com este autor, através deles existe o registo emocional das decisões ou seja, os efeitos da decisão provocam determinadas emoções que podem ser positivas ou negativas e que vão ser associadas à decisão que a originou. Desta forma, quando nos confrontamos com uma situação semelhante, a memória vai ajudar o cérebro associando a decisão ao respectivo estado emocional, que pode ser positivo ou negativo. Face a isto somos direccionados a repetir decisões e experiências que motivaram os estados positivos e a evitar o que se associa aos estados negativos. Procura-se optimizar as decisões futuras em função do passado, regulando as escolhas para o que nos levou ao sucesso."


(GOMES,2006 Página 39)



"As emoções têm um papel decisivo na concentração e por consequência na aprendizagem, devido aos marcadores somáticos, mas também na formação das intenções inconscientes condicionando fortemente as tomadas de decisão. "


(CAMPOS,2008 Página 12)



"Quando lhe surge um mau resultado associado a uma dada opção de resposta, por mais fugaz que seja, você sente uma sensação visceral desagradável. Como a sensação é corporal, atribuí ao fenômeno o termo técnico de estado somático (em grego, soma quer dizer corpo); e, porque o estado ”marca” uma imagem, chamo-lhe marcador. Repare mais uma vez que uso somático na acepção mais genérica (aquilo que pertence ao corpo) e incluo tanto as sensações viscerais como as não viscerais quando me refiro aos marcadoressomáticos."



"Qual a função do marcador-somático? Ele faz convergir a atenção para o resultado negativo a que a ação pode conduzir e atua como um sinal de alarme automático que diz: atenção ao perigo decorrente de escolher a ação que terá esse resultado. O sinal pode fazer com que você rejeite imediatamente o rumo de ação negativo, levando-o a escolher outras alternativas. O sinal automático protege-o de prejuízos futuros, sem mais hesitações, e permite-lhe depois escolher entre um número menor de alternativas. A análise custos/benefícios e a capacidade dedutiva adequada ainda têm o seu lugar, mas só depois de esse processo automático reduzir drasticamente o número de opções. Os marcadores-somáticos podem não ser suficientes para a tomada de decisão humana normal, dado que, em muitos casos, mas não em todos, é necessário um processo subseqüente de raciocínio e de seleção final. Mas os marcadores-somáticos aumentam provavelmente a precisão e a eficiência do processo de decisão. Sua ausência as reduz. Essa distinção é importante e pode com facilidade passar despercebida."


DAMÁSIO (1996, Página 199)

Abraço

Luis Esteves

la_futeboll@hotmail.com


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



CAMPOS, Carlos César Araújo. A Singularidade da Intervenção do Treinador como a sua«Impressão Digital» na… Justificação da Periodização Táctica como uma «fenomenotécnica». Monografia de Licenciatura apresentada na Faculdade de Desporto da UP - Porto. 2007, 102.p.


GOMES, Marisa Silva; Do Pé como Técnica ao Pensamento Técnico dos Pés dentro da Caixa Preta da Periodização Táctica - Um estudo de caso - Monografia de Licenciatura apresentada na Faculdade de Desporto da UP - Porto. 2006, 111 p.


DAMÁSIO, Antonio R; O erro de Descartes emoção razão e o cérebro humano / tradução portuguesa Dora Vicente e Georgina Segurado — São Paulo Companhia das Letras 1996. 330 Páginas.

TÁTICO-TÉCNICO ESPECÍFICO


Abraço

Luis Esteves

la_futeboll@hotmail.com

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A PROPÓSITO DA VELOCIDADE «TÁTICO-TÉCNICA COLETIVA» NO FUTEBOL...


"O jogo em que o jogador se posicionava para receber a bola, depois observava, pensava e agia, faz pouco sentido no contexto actual. As marcações são cada vez mais pressionantes, a velocidade de jogo cada vez mais elevada, o tempo para agir cada vez mais curto, pelo que cada vez é mais premente a necessidade de realizar a antecipação mental e motora."


GARGANTA - 1999


Giuliano, exemplo da velocidade do indivíduo para o todo, porém o todo não é veloz para com o indivíduo..



Não gosto de assistir a jogos nacionais na TV. Por um simples motivo, na maioria das vezes o ângulo de filmagem é pouco amplo, e a velocidade do jogo me engana, fico sempre com a impressão de que o futebol apresentado é lento, e realmente, é. Porque minha TV é a mesma quando vejo Barcelona x Chelsea, e o futebol apresentado é muito mais dinâmico.


Mas o futebol brasileiro não é lento em termos físicos convencionais (basta analisar a equipe do Inter, que tem como coordenador de preparação física o Mestre Élio Carravetta, ao qual tive o prazer de ser aluno na Universidade em mais de uma cadeira, e hoje acho que temos alguns dos melhores Preparadores Físicos do mundo atuando em nossas equipes), mas sim em termos da velocidade de deslocamento, velocidade de reação, num sentido perceptivo/cognitivo, em termos coletivos. Essa lentidão é clássica do futebol cadenciado brasileiro, que continua privilegiando a ação individual como solução dos problemas (analise o gol do Inter), e isso torna o jogo muito chato, como foi este Gre-Nal.



O Grêmio ainda tenta ter uma organização coletiva que possa automatizar (no sentido positivo da palavra) movimentos coletivos, gerados pela capacidade metodológica do Autuori, mas vai de encontro à qualidade dos jogadores, que é baixa, e não permite hoje assimilar e executar o modelo de jogo que ele propõe, mas poderia ser coletivamente mais rápida à equipe do Grêmio.

Esta falta de velocidade coletiva gera o problema que a equipe tem hoje, ela propõe o jogo, porém não consegue finalizar, e isto são princípios de jogo, a Mobilidade Ofensiva tem que ocorrer (e hoje a velocidade de deslocamento dos jogadores do Grêmio é de média intensidade, e de pouca continuidade, o time é estático em Organização Ofensiva), para haver profundidade / amplitude, ai a escalação tem que ser congruente com o modelo, e não foi. Pois jogar com Peréa como único atacante de centro, de inicio, e depois retirando Douglas Costa, opção de amplitude, colocando Herrera, para mim foi um erro estratégico, aliás, como vários que eu mesmo já cometi (sem comparações de níveis), faz parte, mas faltou ousadia, como disse Túlio ao final do jogo. Quem propõe o jogo, tem que ousar.



O Grêmio hoje é uma equipe taticamente muito bem arrumada, tem mecanismos setoriais e intersetoriais (Talvez a única equipe do Brasil que consegue ter uma organização tática além do Corinthians, não quero ser injusto com o Vitória, mas acho que em bom nível, só estes dois), mas como o próprio Autuori disse em entrevista a rádio gaúcha, não consegue se eficiente no último terço do campo, ou seja, a zona de finalização, exatamente porque a Mobilidade dos jogadores é baixa demais, o que permite muito poucas oportunidades geradas de forma consciente, como um Modelo de ORGANIZAÇÃO, como o que o Grêmio quer, basta olhar as chances de gol do Gre-Nal. Acho que com Tcheco e Max Lopes não seria muito diferente. Um jogador lento pode ser rápido, se executar o que o modelo pede de forma rápida, passes, lançamentos, infiltrações, ocupações de espaço, etc...





Quanto ao Inter, chega a ser engraçado, mas respeito à metodologia de treino do Mário Sérgio, até por que, tudo que sei, vai de reportagens antigas e atuais, repassadas na mídia, mas neste caso, não existe Modelo de Jogo. Nitidamente não existe.



A equipe pode entrar com qualquer sistema no jogo, pensando que, isto vai gerar grande stress no adversário, sendo que todos que trabalham com o futebol, neste nível, já prevêem todas as situações possíveis, e ainda mais jogando como a equipe do Grêmio joga que não tem a preocupação de se encaixar ao adversário, pois tem um Modelo definido. Ou seja, as adaptações que vão ocorrer em virtude do posicionamento, são eliminadas em 5 ou 10 minutos no máximo. Mas voltando ao Mário Sérgio, o que mais me espanta, no que tenho ouvido em rádio e jornais, é a capacidade cognitiva dos jogadores, por isso volto ao início do post, o futebol brasileiro é lento por quê? Porque não é específico. E quando digo isso, digo o Treino.



Relato do jogador Giuliano do Internacional: O professor testou vários sistemas e posicionamentos na equipe no COLETIVO, e em determinado momento um deu certo, e foi com esse que viemos para o jogo (não foi com estas palavras), ou seja, só por aí, quem conhece e entende a Metodologia do Treinamento Desportivo de Alto Rendimento já sabe que, não pode haver velocidade coletiva, não pode haver mecanismos, não pode haver antecipação do ato se não houver uma meta a ser seguida, um modelo a ser atingido, por quê? Porque o jogador não tem uma cultura a seguir, pela falta de continuidade no processo específico de treino, repare que, não estou criticando o lado estratégico de anular ou não determinados pontos do adversário, colocando determinado jogador em determinada função, mas o de ter um modelo de jogo, e acreditar nisso, o Inter não tem, ele varia de Modelos, ou será que o Modelo de jogo do Inter é o Variar Modelos, mas então se é como conseguir uma qualidade de jogo maior, partindo do princípio de que tem o material humano suficiente para isso? (Áh se o Autuori estivesse no Inter...).

Além da mobilidade ofensiva a qual já citei, o Internacional nesta troca constante de sistema, acaba por não ter velocidade coletiva por que em níveis de terreno de jogo, não há possibilidades geometricamente falando de prever uma ação, pois não é o mesmo antecipar o ato em um 4.4.2, e em um 3.6.1, não é. Por isso depende da Improvisação, o que é diferente da Criatividade.

Vale lembrar que, tudo que falei acima é relacionado à Organização Ofensiva, neste momento e na Transição Ofensiva é que se fazem gols, além das BP, portanto, atacar é muito mais difícil que defender uma equipe minimamente treinada e bem posicionada, anula facilmente um ataque de muita qualidade, se esse for estático. Por isso eu digo que para atingir os Gols, a qualidade de jogo de passes, intercalando com um jogo de lances individuais como é a cultura brasileira, tem que haver velocidade coletiva, velocidade de antecipação, velocidade de reação, deslocamentos constantes, e tudo isto previsto por um modelo de jogo. Então, chego à conclusão de que no futebol brasileiro, sobra "Boleiragem", e falta Teoria.


ALGUMAS EVIDÊNCIAS IMPORTANTES... PARA O ENTENDIMENTO DA VELOCIDADE NO JOGO DE FUTEBOL


UMA VISÃO CLÁSSICA


Definição: "Capacidade que um indivíduo apresenta para realizar ações motoras em um tempo mínimo e com máxima eficácia."


"A velocidade é Sub-dividida em: Velocidade de Reação
Velocidade de aceleração, Velocidade Máxima e
Resistênciade Velocidade."


GOMES e SOUZA (2008, Página. 138)

E ainda segundo GOMES e SOUZA(2008, Página 138) tem a Rapidez, que é dividida em Rapidez da reação motora e rapidez dos movimentos.. E segundo o mesmo GOMES e SOUZA (2008, Página 138) a velocidade / rapidez é manifestada por um todo complexo que envolve outras capacidades como força, flexibilidade, coordenação...dentre outras variações de sub-divisão da velocidade.


EM UMA VISÃO SISTÊMICA


"No contexto desportivo, a velocidade tem sido entendida como uma capacidade motora cujo desenvolvimento é fortemente determinado pela faceta genética, o que lhe confere um reduzido potencial de treinabilidade. Contudo, se bem que seja comum dizer-se que já se nasce velocista, para nós é claro que nos jogos desportivos é possível ser-se rápido sem que se disponha das características de um corredor de velocidade ou de um saltador.... nos jogos desportivos colectivos não existe uma, mas várias velocidades, cuja lógica de expressão e desenvolvimento implica uma subordinação às exigências particulares da actividade desenvolvida durante o jogo. Neste sentido, é avançada uma perspectiva centrada na interligação das valências perceptivas, decisionais e motoras, e cuja configuração contempla o entrelaçamento da velocidade com os factores de natureza técnica e táctica."


GARGANTA (1999, Página 01)


"Os jogos desportivos colectivos (JDC) constituem modalidades que se caracterizam por complexas relações de oposição e de cooperação que decorrem dos objectivos dos jogadores e das equipas em confronto e do conhecimento que estes possuem do jogo, de si próprios e do adversário (Garganta & Oliveira, 1996). Dado que, neste contexto, a dimensão estratégico-táctica assume um papel determinante, o conceito de velocidade transcende claramente a concepção clássica que a define como a capacidade de executar acções motoras no mais breve tempo possível."

Weineck (1994) e Gambetta et al. (1998) ilustram bem este facto, no âmbito do Futebol, ao considerarem a coexistência de sete formas:

a velocidade de percepção - relacionada com a habilidade para processar estímulos auditivos e visuais e tomar decisões a partir de uma variedade de escolhas dependentes de uma situação particular;
• a velocidade de antecipação - relacionada com a habilidade para prever as probabilidades de evolução das linhas de força de uma situação;
a velocidade de decisão - relacionada com a habilidade para, após ter analisado uma situação, decidir o que fazer;
• a velocidade de reacção - relacionada com a habilidade para reagir a uma acção ou estímulo prévio;
a velocidade de movimento sem bola - relacionada com a habilidade para executar acções sem bola (desmarcações, tackles, marcações, saltos, mudanças de direcção e outras);
• a velocidade de acção com bola - relacionada com a habilidade para executar as habilidades técnicas específicas, na relação com o móbil do jogo;
a velocidade de acção de jogo - relacionada com a habilidade para tomar decisões durante o jogo e executá-las em relação com as condicionantes técnicas e tácticas, i.e., para agir correctamente, no tempo certo.

GARGANTA (1999, Página 03)




O TREINO DA VELOCIDADE NOS JDC


Nos JDC há que considerar:

(1) o treino da velocidade relacionado com as acções explosivas efectuadas em espaço reduzido, tais como saltos, travagens, mudanças de direcção, passes, remates, e outras actividades acíclicas;

(2) o treino da velocidade de repetição, mais relacionado com as acções cíclicas, produzidas num espaço mais amplo, como por exemplo a corrida, com e sem bola.


Dado que a prestação efectiva dos jogadores numa partida se prolonga por um período de tempo considerável, não basta ser rápido. É necessário sê-lo muitas vezes, sem perder eficácia. Deste modo uma das preocupações ao nível do treino é predispor o jogador para repetir a realização de acções rápidas, ao longo do jogo, sem que a sua velocidade de realização baixe drasticamente por aparecimento da fadiga. À capacidade que permite fazer face a este condicionamento dá-se o nome de velocidaderesistência.

O treino desta capacidade é muito esgotante, tanto física como mentalmente, o que nos previne para a parcimónia com que deve ser abordado. Normalmente é usado em jogadores de elite, devendo evitar-se a sua aplicação a indivíduos com idade inferior a 16 anos (Bangsbo, 1994).


PRECEITOS FUNDAMENTAIS


"Como já o referimos, o treino da velocidade no contexto dos JDC deve ser equacionado de forma a que haja um casamento óptimo entre a solicitação das valências perceptivas, decisionais e neuromusculares. Há, portanto, que reconhecer que os benefícios do treino da designada velocidade funcional, que integra os ingredientes do jogo, são bem mais significativos do que o treino formal de velocidade, este habitualmente associado aos sprints lineares realizados sem bola (Bangsbo, 1994). Nesta linha de raciocínio, para que o desenvolvimento da velocidade seja eficaz, nos JDC, parece-nos importante atender aos seguintes preceitos:


* Gerar esforços de intensidade maximal

Para que se consiga uma adaptação efectiva é imprescindível exigir-se ao executante elevada concentração e máximo empenhamento na tarefa a realizar. O respeito por esta exigência é fundamental, dado que o exercício apenas induz a adaptação desejada se provocar a solicitação de um número significativo de unidades motoras, o que, por sua vez, reclama intensidade maximal na sua execução.

Tal implica o respeito pelas seguintes condições:

• é conveniente realizar o treino de velocidade no início das sessões, após um adequado aquecimento (Bangsbo, 1994). O desenvolvimento da velocidade deve ter lugar em condições de relativa frescura nervosa e muscular (Dick, 1989; Verkhoshansky, 1996a).

Quando a fadiga começa a instalar-se a excitabilidade do sistema neuromuscular diminui, provocando também uma redução da coordenação intra e intermuscular e, com ela, uma diminuição da eficiência dos movimentos. Neste caso o efeito de treino orientar-se-á, sobretudo, para a velocidade-resistência;

• os exercícios devem ser realizados durante períodos de tempo curtos, até 10 segundos;

• os períodos de recuperação devem ser longos, com duração superior a cinco vezes o tempo de duração do exercício, de forma a permitir uma recuperação completa, e assim se criarem condições aos sistemas implicados para nova repetição ou série em regime de intensidade máxima.

Para o caso particular da velocidade-resistência, pode ter-se como referência exercícios realizados com intensidade quase máxima, com uma duração entre 20 e 40 segundos e intervalos de recuperação entre três e cinco vezes a duração do exercício. Os intervalos devem incluir actividades de repouso activo que acelerem a recuperação, como por exemplo corrida lenta.


* Estabilizar o contexto de treino

Importa criar um contexto de treino no qual as experiências motoras favoreçam a identificação de uma regularidade de certos efeitos. Isto permite que o praticante seleccione os aspectos fundamentais e que o treinador disponha de condições para o informar acerca da maior ou menor justeza dos seus comportamentos e dos aspectos sobre os quais deve actuar para ser eficaz. No âmbito energético-funcional, um dos aspectos a considerar é a realização de um volume de trabalho suficiente para provocar uma adaptação positiva. Dependendo embora da estrutura interna do exercício, do grau de motivação dos atletas e do seu estado de treino, para o desenvolvimento da velocidade parece razoável tomar-se como referência a execução de 2 a 10 séries de 2 a 10 repetições (Bangsbo, 1994).

* Desenvolver o complexo velocidade-precisão

A procura da conjugação velocidade-precisão, aquando do treino das habilidades técnicas, é um aspecto importante a ter em conta, no sentido do aperfeiçoamento do controlo da alternância da contracção e descontracção dos músculos esqueléticos, i.e., da coordenação intra e intermuscular (Israel & Buhl, 1982), em função dos padrões de movimento típicos da modalidade e também da adaptabilidade na realização de movimentos atípicos.

Não obstante pesquisas, efectuadas no âmbito da Psicologia do Trabalho, tenham demonstrado que toda a aprendizagem é acompanhada de um aumento de velocidade de realização do sujeito para a tarefa considerada (Leplat, 1970 cit. Jalabert, 1998), sabe-se que existe um limiar de velocidade abaixo e acima do qual o desenvolvimento da velocidade não se faz sentir. Enquanto que no primeiro caso a precisão das acções raramente é perturbada, no segundo ela torna-se praticamente inacessível (Jalabert, 1998).

Assim, impõe-se a adopção de uma velocidade crítica que viabilize a relação optimal entre a velocidade e a precisão, não ignorando que a mesma varia, entre outros aspectos, com a complexidade da tarefa a realizar e com o nível do praticante. Para que o desenvolvimento do complexo velocidade-precisão não fique comprometido, o jogador deve ter assimilado e estabilizado o estereótipo dinâmico motor relativo aos requisitos fundamentais das habilidades técnicas. As habilidades técnicas devem ser aprendidas e estabilizadas a velocidades relativamente baixas. Contudo, é ao experimentar acções executadas a velocidades superiores, que o praticante adquire a correspondente imagem sensório-motora do movimento (Verkhoshansky, 1996a). Por essa razão e também porque o transfere da técnica aprendida a baixa velocidade para exigências de alta velocidade é extraordinariamente complexo (Dick, 1989), o atleta deve ser encorajado a consolidar a técnica acelerando, aumentando a intensidade. Neste sentido, preconiza-se a realização de exercícios de velocidade funcional (Bangsbo, 1994), os quais devem reproduzir, não só o padrão estrutural dos movimentos a adoptar, mas também a velocidade crítica com que os mesmos devem ser executados (Verkhoshansky, 1996b).

É óbvio que ao pretender-se desenvolver a velocidade funcional, deve garantir-se que os atletas assegurem a continuidade das acções, o que implica, por exemplo, que saibam receber a bola e passá-la em condições de ser jogada, ou conduzi-la em progressão sem perder o seu controlo. Se os atletas estiverem constantemente a perder o controlo da bola, a continuidade e a ligação das acções ficará comprometida e, por consequência, estará também comprometido o desenvolvimento da velocidade.

* Desenvolver a velocidade em contextos de interferência táctico-técnica

O desenvolvimento da velocidade em contextos de interferência táctico-técnica revela-se muito importante. Neste domínio a procura da individualização da carga e da diferenciação do conteúdo, em função do estatuto posicional e das características dos jogadores (Morth, 1998), são aspectos a considerar.

Para dar resposta a esta intenção torna-se muito importante o recurso a "complexos tácticotécnicos", entendidos como conjuntos de exercícios que, inspirados na matriz do modelo de jogo a perseguir, induzem um desenvolvimento motor específico do sistema funcional dos jogadores e da equipa. É conveniente, por exemplo, adoptar exercícios rítmicos que levem o jogador e a equipa a reagirem, o mais rapidamente e o melhor possível, à situação de perda ou conquista do móbil do jogo (bola, ...), com o intuito de criar desequilíbrios súbitos no balanço ataquedefesa ou defesa-ataque e surpreender o adversário.

* Dar uma intenção funcional à acção a desenvolver

Um jogador que leia ou interprete o jogo duma forma deficiente, mesmo que seja rápido na execução de acções individuais, não consegue, habitualmente, adoptar soluções proveitosas para a equipa. Sabendo que o projecto de intenção, relativo a uma determinada acção, guia já essa mesma acção no plano perceptivo (Jeannerod, 1985), deve procurar-se que as intenções de acção resultem duma análise funcional do movimento adaptado às competências reais do executante e aos requisitos próprios do jogo. Neste sentido elas favorecem a selecção, a ligação das informações e induzem ganhos na velocidade de realização.

* Atender à especificidade do contexto

No treino da velocidade deve adoptar-se formas e situações similares às do jogo, perseguindo o denominado treino da velocidade funcional (Bangsbo, 1994).

Tenha-se em consideração, no entanto, que os tipos de solicitações de um jogo de Futebol são diferentes das reclamadas por um jogo de Basquetebol e estas diferem das exigências típicas de um jogo de Hóquei em Patins. Este facto torna imprescindível a necessidade de perfilar a especificidade (o bilhete de identidade) da modalidade desportiva em questão.

CONCLUSÕES

O que interessa aos JDC não é o desenvolvimento de capacidades absolutas-máximas, mas de capacidades relativas-optimais que permitam ao jogador ser eficaz em relação às configurações de jogo com que depara. Por isso, a velocidade, como qualquer outra capacidade configurada a partir da dimensão energético-funcional, não é, nos JDC, uma faculdade substantiva, mas uma capacidade subsidiária do rendimento, a qual adquire sentido quando perspectivada em função do contexto que justifica a sua expressão.

Considerando este pressuposto, a organização do processo de treino deve partir, antes de mais, do modelo de actividade que se pretende que os jogadores desenvolvam, para dar resposta ao modelo de jogo preconizado pelo treinador, embora se possa acentuar a valência muscular ou informacional, em função de aspectos como, por exemplo, o momento do treino (sessão de treino, microciclo, mesociclo) e as características dos atletas
(idade, anos de treino, perfil fisiológico, etc.).

Este entendimento implica que o treino da velocidade seja perspectivado duma forma integrada e aplicada, na qual o protagonismo excessivo do condicionamento atlético dá lugar à solicitação conjugada da(s) velocidade(s) de percepção, decisão e realização, consubstanciada em sequências rítmica de comportamentos táctico-técnicos que traduzem a velocidade de jogo.

GARGANTA (1999)

Em resumo, existe uma linha tênue qualitativa que separa a especificidade contextualizada, e a não-contextualizada. A partir daí, defina o seu modelo de jogo, e treine a velocidade de forma específica, e aí surgirá a VELOCIDADE COLETIVA..ou seja (voltando ao Gre-Nal) a "culpa" pela nossa lentidão disfarçada em "cadência de jogo da - cultura - do futebol brasileiro" (ou seja, a lentidão do nosso jogo já é cultural, e a história já nos mostrou que, em 70 tivemos que nos renovar para ganhar novamente, pois só o futebol arte não bastava) nada mais é do que a nossa forma de treino que ainda é, em sua grande maior,a a mesma de sempre....quarta coletivo...quinta físico-técnico....sexta apronto... **

Ao professor Antonio Carlos Gomes - Desculpe o reducionismo injusto de informações acima citados, teria muito mais informações a colocar...

Ao professor Júlio Garganta - Desculpe o quase plágio de informações citadas acima, mas o tempo é reduzido para fazer uma interpretação qualificada, a nível de ser entendida neste espaço.

** - Vale dizer que, mais importante que o nome que o exercício leve, o importante é as adaptações que ele gera, ai é que está o perigo...
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Aliás, genial a coluna diária do Paulo Roberto Falcão nesse domingo, vale a pena procurar, ele tem toda a razão, por isso não leve muito em consideração o que leu acima, afinal, como diria alguns treinadores que tive na minha esdrúxula e curta carreira no futebol de base, isso tudo é bobagem, pega a bola e joga... mas pelo menos joga mais rápido.



Um abraço
Luis Esteves
la_futeboll@hotmail.com


Obs: Se quiser uma análise mais específica da dimensão tática, dá uma olhada no blog do professor Bazilio Amaral, mestre na arte da avaliação tática.

ai esta:



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA



GARGANTA, Júlio; O desenvolvimento da velocidade nos Jogos Desportivos Coletivos. Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física - Universidade do Porto - Artigo Publicado na revista Treino Desportivo, nº 6. Porto – Portugal. 1999. 13 páginas.


GOMES, Antonio Carlos, SOUZA, Juvenilson; Futebol: Treinamento Desportivo de Alto rendimento / Editora: Artimed. Porto Alegre - RS. 2008. 256 páginas.


sábado, 24 de outubro de 2009

EXERCÍCIO ESPECÍFICO - CIRCÚITO DE MINI-JOGOS (REVISÃO)

Este exercício já foi postado, porêm fiz alterações visando uma maior especificidade em relação ao modelo de jogo que sigo, então, ai está.

Abraço
Luis Esteves
la_futeboll@hotmail.com

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

UMA REFLEXÃO SOBRE TRANSIÇÕES X ORGANIZAÇÕES


TRANSIÇÕES X ORGANIZAÇÕES

Assintindo a partida FC Barcelona x Rubin Kazan, time russo que eu talvez por ignorância não conhecia, cheguei a uma ideia sobre a definição referente a modelo de jogo no futebol.


A proposta é esta:


Existem somente dois tipos de modelos de jogo no futebol:


O de ORGANIZAÇÃO

O de TRANSIÇÃO


Todos os outros são variantes, lógico que dentro de ambos existem também organizações e transições, só que a proposta ou se encaixa em uma ou em outra, e também é possivel haver uma mudança de modelo em meio ao jogo frente a determinado resultado, mas nunca foge disso.
Por exemplo:
Na partida acima citada, em que o desconhecido Rubin Kazan, venceu o ótimo time do FC Barcelona por 1x0 em pleno Camp Nou, foi um exemplo clássico de modelos de jogo, nitidamente propostos, com seus prós e contras dentro de uma partida de futebol.
A idéia não é separar momentos, e sim identificar padrões, pois mesmo uma equipe de ORGANIZAÇÔES terá que ter uma boa transição ofensiva para poder circular a bola de forma qualificada, e uma equipe de TRANSIÇÕES terá que ter uma boa Organização defensiva para poder utilizar suas transições, ou seja, é indivisível, porém, determinados momentos serão potencializados, de acordo com alguns critérios.
FC Barcelona:
  • MODELO DE ORGANIZAÇÃO:

- Privilegia a Posse e Circulação de Bola curta com variações de virada longa.

- Privilegia a Mobilidade Ofensiva com 3 atacantes e dois meias, congruência ao 4.3.3

- Privilegia a Amplitude e a Profundidade. Com aberturas Diagonais por todo o campo.

- Privilegia o Jogo Diagonal - lateral.

- Privilegia a Circulação curta, com muitos começos de jogo, muita circulação coma defesa.

- Privilegia a Pressão em bloco alto, ou médio.

- Privilegia o jogo bonito, plástico, propôe o jogo sempre. Em raras ocasiões se submete ao adversário.

Rubin Kazan:
  • MODELO DE TRANSIÇÕES:

- Privilegia a compactação. Porêm a Abertura é rápida, mas vertical.

- Privilegia a marcação zona / lateral no caso com duas linhas de 4 - congruência na proposta de sistema x modelo.

- Privilegia as transições Ofensivas como possibilidade de pontuação.

- Privilegia o erro do adversário para uma nova transição, ou seja quer sempre o contra-ataque.

- Tem dificuldades grandes na organização Ofensiva, normalmente retorna a bola pela falta de Mobilidade. Porêm tem facilidade na Organização Defensiva.
- Privilegia o bloco baixo, muito compacto.

- Privilegia o jogo vertical, pouquíssima circulação lateral, porém com ótima eficácia de passes.

- Privilegia a bola parada como possibilidade de gols. É mais dependente deste fator do que o modelo de Organizações.

- Privilegia a circulação longa, com variações para a bola curta, posse de bola mais fugáz, ou seja, cerca de 3 ou 5 passes curtos e um vertical longo

Observação:

De uma forma simples, nestes exemplos nota-se a característica dos modelos bem explícita, um assume o risco, o outro não, um agrada aos que gostam do futebol bem jogado, o outro agrada os que querem ganhar sempre (Existem os que querem ganhar sempre com o futebol bem jogado), de qualquer forma. E qual a importância disso?
A escolha destes modelos, por parte do treinador, na definição do modelo de jogo da equipe no início da temporada, deve ser levada em conta a partir de alguns critérios:
  • Qualidade dos jogadores (será que o Barcelona circularia a bola da mesma forma com jogadores de nível inferior? só porque tem um modelo de jogo definido?)
  • Modelo histórico do clube (Menos importante se houver vitórias, Paulo Autuori esta sofrendo deste mal, os gremistas preferem furar a bola, mas ganhar o jogo).
  • Realidade do clube (Alguns modelos exigem mais qualidade, mais estrutura, portanto, as vezes a idéia não condiz com a realidade).
A idéia do treinador, antes de ser colocada, tem que ser analisada dentro destes critérios, para haver uma identificação. Aprofundaremos.
Um abraço
Luis Esteves

terça-feira, 20 de outubro de 2009

EXERCÍCIO - PRESSÃO ZONAL


Abraço
Luis Esteves

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A IMPORTÂNCIA DO MODELO DE JOGO COMO GUIA DA EPECIFICIDADE

“(…)O êxito no futebol tem mil receitas . O treinador deve crer numa,
e com ela seduzir os seus jogadores”

(Jorge Valdano)



Quando se fala em treinamento, em especificidade, em congruência de exercícios, é impossível fazer uma avaliação de especificidade, se não houver uma avaliação do modelo de jogo proposto. Tudo gira em torno do modelo de jogo, independente dos princípios, só é possível periodizar se houver conhecimento do que treinar, e de onde se quer chegar (GOMES 2006, p.07)

Campos 2007 cita:

"Há uma necessidade permanente do modelo estar sempre presente em todo o instante de forma a que as coisas se direccionem sempre como eu pretendo que aconteçam". (Guilherme Oliveira, 2006) citado por (CAMPOS, 2007,p.07)

Campos 2007 também cita:

"Exercitamos o nosso Modelo de Jogo, exercitamos os nossos princípios e sub-princípios de jogo, adaptamos os jogadores a idéias comuns a todos, de forma a estabelecer a mesma linguagem comportamental. Trabalhamos exclusivamente as situações de jogo que me interessam, fazemos a sua distribuição semanal de acordo com a nossa lógica de recuperação, treino e competição, progressividade e alternância. Criamos hábitos com vista à manutenção da forma desportiva da equipa, que se traduz por um frequente «jogar bem»" (Mourinho, 2005) citado por (CAMPOS,2007, P.07).

Ou seja, só é possível criar a cultura de jogo prevista pela aquisição de comportamentos que a Periodização Tática prevê, se houver um modelo de jogo bem definido,que guie todo o processo de treinamento. Ou seja: Para onde vamos??

"A pertinência desta questão parece-nos fundamental para desenvolver um processo direccionado para um determinado «jogar» ou seja, para um processo Intencional. A partir dele criam-se um conjunto de referências que definem a organização da equipa e jogadores nos vários momentos de jogo. Deste modo, o modelo orienta o processo para um jogar concreto através dos princípios colectivos e individuais em função do que é pretendido. Neste sentido, trata-se de desenvolver um jogar Específico e não um jogar qualquer." (GOMES, 2006, p.28)

Mourinho, citado por Oliveira, Resende, Amieiro e Barreto 2006:

"Assumir sempre os jogos, não se descaracterizar perante os adversários, é uma característica das minhas equipes. Já era quando eu treinava o União de leiria, que era uma equipe que não tinha essa obrigação."

"Quero uma alta circulação de bola, e para que isso aconteça tem que existir um bom jogo posicional, isto é, todos os jogadores tem de saber que em determinada posição há um jogador, que sob o ponto de vista geométrico há algo construído no terreno de jogo que lhes permita antecipar a ação. Campo grande a atacar, linhas juntas a defender, uma reação forte a perda da posse de bola; uma estrutura fixa em termos posicionais e uma estrutura móvel, ou seja, há jogadores que por sua dinâmica tem mobilidade, apesar de ter que haver sempre um equilíbrio posicional."

"Para além da posse e circulação da bola, outro grande princípio que facilmente se identifica nas minhas equipes é o "pressing alto zonal". E para mim o pressing não é mais que um meio para recuperar a posse da bola, e só faz sentido depois de a equipe souber fazer uso dessa posse".(OLIVEIRA, RESENDE, AMIEIRO e BARRETO, 2006. p.192 e 193)


Percebemos que o modelo de jogo é individual, de cada treinador, e nunca será igual, por mais que seja parecido.


ABAIXO SEGUE UM EXEMPLO SIMPLES DE MODELO DE JOGO:



Indo mais afundo no processo do modelo de jogo, podemos verificar a importância do modelo na formatação do grupo, como cita Gomes 2006, p.28"Faria (1999, p. 49) para quem "o Modelo de Jogo condiciona um modelo de treino, um modelo de exercícios e, necessariamente, um modelo de jogador."

Portanto verifica-se a importância de ter este Ponto bem definido, antes mesmo da temporada iniciar, pois um determinado modelo de jogo, pode não ser cabível a determinado grupo de jogadores, ou a determinada estrutura, ou a determinada categoria, por isso a avaliação de qual modelo seguir deve ser feita, e o mesmo deverá ser estruturado levando em conta estes fatores.


A COMPOSIÇÃO DO MODELO DE JOGO:


Como já citado acima, o modelo de jogo inevitavelmente será composto por momentos, independente do modelo, serão, segundo Gomes 2006:


ORGANIZAÇÃO OFENSIVA
TRANSIÇÃO DEFENSIVA (ATAQUE - DEFESA)
ORGANIZAÇÃO DEFENSIVA
TRANSIÇÃO OFENSIVA (DEFESA - ATAQUE)

Além disso, alguns estudiosos como Carvalhal, e Queiróz (O qual não tenho referências aqui)colocam a bola parada como um quinto momento dentro dos quatro principais, eu utilizo essa referência também.

Guilherme Oliveira, na época treinador do sub-20 do FC Porto cita em Gomes 2006:

"De uma forma simples, que isso é um bocado complicado, pretendo que seja uma equipa de posse de bola, mas com uma posse de bola com objectivo de desorganizar a estrutura defensiva adversária. Ou seja, é uma posse de bola que pretende ser objectiva e inteligente para conseguir resolver os problemasque a outra equipa em termos defensivos nos vai colocando e objectiva no sentido de quando aparece a desorganização da equipa adversária, nós podermos aproveitar essa mesma desorganização. Esse aproveitamento procura a desorganização através da circulação de bola, de posse de bola. Em termos de transição ataque - defesa é uma equipa que procura ser muito decidida na transição. Nós perdemos a posse de bola e procuramos logo ganhar a posse de bola e fechar a equipa logo de imediato para que se não conseguirmos ganhar a posse da bola, quando entrarmos em organização defensiva, já estarmos fechados, já estarmos compactos. Normalmente todas as equipas que jogam contra nós ou a grande parte das equipas que jogam contra nós, jogam fundamentalmente para aproveitar esse momento para sair em contra-ataque. E por isso, neste momento treinamos muito para não permitir que esse contra-ataque seja feito pelas equipas contrárias, sermos muito agressivos quando perdemos a posse da bola para não permitir esse contra-ataque. Se entrarmos em organização defensiva, somos uma equipa que defendemos à zona. E aquilo que procuramos em organização defensiva é fazer com que a equipa adversária jogue em função daquilo que nós queremos. Quer dizer, nós sem posse de bola tentarmos mandar, direccionar a outra equipa. Se quisermos que a jogue longe, pressionamos mais à frente para ganhar a bola em determinados momentos. Se quisermos que a equipa jogue mais perto, deixamos a equipa subir para depois, estrategicamente em determinadas zonas ganhar a posse de bola. Por isso, tentamos mandar na equipa adversária mesmo sem posse da bola. Somos uma equipa que defendemos à zona e tenta ser o mais agressiva possível quer dizer, não está à espera do erro do adversário mas tenta provocar o erro ao adversário para ganhar a posse de bola. Em transição defesa-ataque somos uma equipa que fundamentalmente queremos ficar com a bola ou seja, não privilegiamos o contra-ataque, privilegiamos ficar com a bola. Se for possível dar profundidade em segurança, por isso, o contra-ataque com segurança nós fazemo-lo. Se não for possível, nós queremos ficar com a bola e iniciar o processo ofensivo. Não gostamos de entrar em jogos em que as transições sejam constantes, de perde- ganha porque é um jogo quase de «flippers» e não gostamos. Gostamos de mandar mais no jogo porque num jogo de transições ninguém manda no jogo. Nós gostamos de ficar com a bola e por isso, se der para dar profundidade em segurança, damos. Se não der, ficamos com a bola e jogamos. Estes são os grandes princípios e depois há muitos sub-princípios que se articulam juntamente com estes. "(GOMES, 2006, Anexo1 XVI, XVII).

Dentro destes momentos, existem Princípios (Grandes), Sub-Princípios, Sub-Princípios de Sub-Princípios, os quais eu nomeei Micro-Princípios, por representarem uma importância menor na hierarquia do Modelo de jogo.

HIERARQUIA DOS PRINCÍPIOS:
MOMENTO:
PRINCÍPIO
SUB-PRINCÍPIO
SUB-PRINCÍPIO DE SUB-PRINCÍPIO (MICRO-PRINCÍPIO)


Gomes 2006 cita, referente a capacidade de decisão do jogador, que esta tomada de decisão deve ser feita sempre levando em consideração (muitas vezes inconciente) os Princípios hierarquizados:

"A tomada de decisão não é algo aleatório ou seja, apesar das particularidades do contexto, o jogador é sobrecondicionado a decidir em função do projecto de jogo da equipa e portanto, dos seus princípios. Assim, o modelo de jogo permite condicionar as escolhas dos jogadores para um padrão de possibilidades ou seja, orienta as decisões dos jogadores ". (GOMES,2006p.28)

EXEMPLO SIMPLES DE UM PRINCÍPIO HIERARQUIZADO EM UM MOMENTO:




"os princípios são bases comuns para que os jogadores "falem" a mesma língua, permitindo exprimirem-se num estilo diferente" (Franz cit. por Castelo, 1994, p. 155).

"os princípios são as condições a respeitar e os elementos a tomar em consideração para que o comportamento seja eficaz" (Grehaigne cit. por Castelo, 1994, p. 155).

"A propósito da definição de princípios de jogo, Guilherme Oliveira (2006) opina que o princípio é o início de um comportamento que um treinador quer que a equipa assuma em termos colectivos e os jogadores em termos individuais. Importa assim dissecar que mecanismos estarão eventualmente por detrás deste potenciamento de determinados comportamentos." (CAMPOS,2007, p.21).


Guilherme Oliveira (Gomes,2006.p.Anexo 1XVII) cita:

"Não, os princípios não assumem todos a mesma importância. Os subprincípios estão subjugados aos grandes princípios e por isso, há uma hierarquização de princípios. Mas somos nós que criamos a hierarquia desses princípios e sub-princípios, dando-lhe uma configuração própria. Se nós quiséssemos que determinados princípios se sobrepusessem a outros, dava um jogo completamente diferente e temos de ter essa consciência. Por isso, num processo de treino há sempre princípios que se sobrepõem a outros. Agora uma coisa muito importante é a interacção desses mesmos princípios. Eles devem estar todos relacionados entre si porque estando interrelacionados entre si, não pode haver princípios que não consigam interagir com outros."

Dentro do proposto acima, chego à conclusão que, para haver uma periodizaçao ideal é necessário ter um modelo de jogo, e a partir daí criar exercícios congruentes ao mesmo, gerando na equipe uma cultura sistemático-complexa de comportamentos, muitas vezes inconscientes, proporcionando ao jogador direcionar a concentração à dimensão mais complexa do jogo, que é a dimensão tática. Portanto o treinamento, a partir das colocações relatadas só será específico, se retratar o modelo de jogo empregado a equipe, e é tão importante quanto ter um modelo, hierarquiza-lo de forma que os jogadores possam entender e realizar os princípios e sub-princípios propostos pelo modelo.


Luis Esteves
Treinador de Futebol
la_futeboll@hotmail.com


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


OLIVEIRA, Bruno; AMIEIRO, Nuno; RESENDE, Nuno; BARRETO, Ricardo; Mourinho: Porque tantas vitórias? Editora:Gradiva, Lisboa. 2006. 223p.


GOMES, Marisa Silva; Do Pé como Técnica ao Pensamento Técnico dos Pés dentro da Caixa Preta da Periodização Táctica - Um estudo de caso - Monografia de Licenciatura apresentada na Faculdade de Desporto da UP - Porto. 2006, 111 p.


CASTELO, Jorge. Futebol modelo técnico-táctico do jogo: identificação e caracterização das grandes tendências evolutivas das equipas de rendimento superior.FMH, Lisboa. 1994.


CAMPOS, Carlos César Araújo. A Singularidade da Intervenção do Treinador como a sua«Impressão Digital» na… Justificação da Periodização Táctica como uma «fenomenotécnica». Monografia de Licenciatura apresentada na Faculdade de Desporto da UP - Porto. 2007, 102.p.